Isis Lustosa

SEMANA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE 2023: REFLEXÕES DE PÁSSAROS E ANOTAÇÕES SOBRE PLANTAS SUPRIMIDAS E MAUS-TRATOS NA EQN 208/209 DE BRASÍLIA

Isis Maria Cunha Lustosa 

Desde já, pondero o conceito, “Brasília, Patrimônio Cultural da Humanidade”[i], o qual aparecerá ao longo da narrativa, o exato texto de opinião. Convém recordar:

 

Em 1972, a UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – criou a Convenção do Patrimônio Mundial, para incentivar a preservação de bens culturais e naturais considerados significativos para a humanidade. O objetivo é permitir que o legado que recebemos do passado, e vivemos no presente, possa ser transmitido às futuras gerações. O conceito de Patrimônio Cultural da Humanidade encerra o entendimento de que sua aplicação é universal. Os sítios do Patrimônio Mundial pertencem a todos os povos do mundo, independentemente do território em que estejam localizados.[ii] (grifo meu).

 

Suscito um debate no âmbito da categoria “Humanidade”. Portanto, não hesito em aventar: Brasília, Patrimônio Cultural das Multiespécies, título a ser discutido em outro escrito, ainda mais fundamentado que este, pois, as multiespécies me instigam nas provocações, como pesquisadora. As vejo, tais suscitações, bem necessárias, muito embora, compreenda o que significa um processo de “Patrimônio Cultural da Humanidade”. Todavia, há cerca de 51 anos, desde quando esta Convenção do Patrimônio Mundial foi criada pela UNESCO em 1972, os tempos mudaram, ainda mais, com a Pandemia da Covid-19, o que me leva a formular mais ajuizamentos, em parte, condiz à narrativa do crime ambiental a ser mencionado. Consta “Dos Crimes Contra a Flora [...] Art. 49. Destruir, danificar, lesar ou maltratar, por qualquer modo ou meio, plantas [...] de logradouros públicos [...]”[iii], conforme a “LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998 [...] sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente [...].”[iv]

 

A maior parte da humanidade, cada vez mais imperante, gera desmedidos crimes ambientais por seus processos antrópicos, dentre outras formas de maus-tratos, provocados aos seres animais e vegetais, e por que não dizer, também, aos humanos contrários aos crimes em questão. Assim, vamos para a abordagem a respeito da específica Área Verde da capital nacional, pois “Brasília é uma das maiores metrópoles do Brasil [...] com acervo arquitetônico, urbanístico e paisagístico [...]”[v], revela o site do Instituto de Patrimônio Artístico e Histórico Nacional (IPHAN). Enfatizo, portanto, o aspecto paisagístico. O mesmo instituto produziu a cartilha “Superquadra de Brasília: preservando um lugar de viver”, na qual se destaca:

 

Quando falamos em áreas verdes, comumente pensamos... Brasília... No contexto das superquadras, as áreas verdes visam dotá-las de uma paisagem serena e aconchegante provendo aos seus moradores um ambiente tranquilo e contato com a natureza, algo cada vez mais raro nas grandes metrópoles. Ali é o lugar das árvores de maior porte, de copas altas, frondosas e que ofereçam sombras generosas [...].[vi]

 

A partir das reflexões iniciais, e, de ainda incidir o mês junho, representativo da Semana Mundial do Meio Ambiente, entre 5 e 9/6/2023, nesta última semana aludida, no exato feriado de Corpus Christi, sentada ao ar livre, decidi contemplar uma das “áreas públicas e verdes” [vii] – Entrequadra (EQ) – a específica EQN 208/209 – na Asa Norte de Brasília. Logo, na minha ponderação, relativa à última data 5/6/2023 – Dia Mundial do Meio Ambiente –, escolhi ler, para os seres vivos da fauna e flora local, o poema “Árvore”[viii], do poeta Manoel de Barros.

 

Dentro do contexto da narrativa, o tema árvore, torna-se o cerne, portanto, com esmero resolvi eleger este poeta brasileiro, cuiabano, tão legítimo e sensível com as palavras, em analogia, o é quase um pássaro João-de-Barro ao declamar: “Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore; Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos; [...] o esplendor da manhã não se abre com faca”[ix], portanto, interagidos são, os seus fragmentos de textos, com os contextos ambientais.

 

De tal modo, neste sol com vento mais que fresco, pus o olhar na escolhida poesia “Árvore”, iniciava-a: “Um passarinho pediu ao meu irmão para ser uma árvore...” e, antes de seguir com a leitura, surpreendi-me em receber aquelas visitas ilustríssimas dos três tenores de penugem, os seres vivos não humanos, animais de asas, presentes de modo marcante na nossa referida Entrequadra, antes dos maus-tratos a eles, decorrentes da supressão das plantas. Naquele dia e hora, porém, estava diante os três pássaros! Foi um enorme prazer revê-los!

 

O primeiro no pouso, o gargalhaste, achegado João-de Barro, passarinho de ventre amarronzado. Ah! Como gargalha o nosso pássaro mais urbano, o construtor ou arquiteto, como queiram imaginá-lo pelas suas engenhosas “casas de barro”[x], ninhos desafiadores, seja único ou coletivo, como forno natural nas árvores, inclusas algumas da EQN 208/209. O outro cantante, o segundo avistado, nomeei-o relações-públicas, aquele que nos recebe toda manhã com o melodioso bem no bico, o peito amarelo, o belo Bem-Te-Vi. Para completar a tríade lírica dos passarinhos, também estava plena a ave símbolo do Brasil, o Sabiá-Laranjeira, o nosso interlocutor das relações internacionais. Ele, o despertador de penas, o pontual cantador em meio à madrugada. O pássaro de peito (semi terracota), semelhante o tom das casas de João-de-Barro, a cor do solo cerradeiro. Sabiá-Sábio, o madrugador, aconchega cedo o ninho contra o predador. Ele ecoa os seus arranjos musicais de Asa a Asa, Tesoura a Tesoura, Eixo a Eixo, Eixão a Eixão, Lago a Lago da capital nacional, ou melhor, canto pulsante em decibéis para o Distrito Federal (DF), pois, homenageia diariamente a sua patrimonial Brasília.

 

Então, os citados pássaros mais que especiais, de convívio íntimo na EQN 208/209, anterior ao impacto ambiental, voltaram em voo rasantes, bem esquivos à dita-cuja Entrequadra. Pousaram juntos na “Árvore” poema do poeta Barros, apoiada em minhas mãos. Os três, sem qualquer pressa individual de alçar voo, bicaram-me sem provocar traumas, nem maus-tratos, mas sim com a intimidade de moradores que somos na mesma cidade “Patrimônio Cultural da Humanidade”. Logo, diante aquele citado comentário do poema, reitero: “Um passarinho pediu ao meu irmão para ser uma árvore...”, o João, o Bem e o Sabiá, acomodados na página daquela poesia, disseram-me em nota musical melancólica: se nós três, seres vivos da fauna, tivéssemos, em 30/3/2023, pedido a alguém para sermos ‘árvore’ aqui na área pública verde – EQN 208/209 – de Brasília, teríamos sido finados, igualmente às nossas familiares da flora, algumas plantas sacrificadas, sem justificativa aceitável. Depois, encheram o peito de saudade! Silenciaram seus cantos por um minuto! Expiraram sem afobação! Continuaram a prosa comigo...

 

Prontamente, como pássaros determinados em suas territorialidades afetivas, e como animais “sencientes”[xi], porque outros seres, além de nós humanos, também sentem, afirmaram-me suas posições por direito em legislações ambientais, patrimoniais, pois o que visualizaram os provocou maus-tratos, levando as árvores, as quais lhes servem de paradas para descanso dos voos, moradas, fontes alimentícias (nos casos das frutíferas), reduções de ruído e claridade, sem falar do ar que nos ofertam a todos os seres. Assim sendo, os amigos voadores e cantadores, pediram-me para eu parar a minha leitura, e relatar a mensagem deles, como ‘Carta-Canto-Afetuosa’ na Semana Ambiental. Desejaram, como seres da fauna, ressoar aquilo presenciado na data fatídica do último março, anteriormente citada, as mortes desnecessárias de seres vivos vegetais, antes de eliminados, eram parte do todo integrativo do espaço público – Área Verde.   

 

Segundo os cordiais pássaros, a Ora-Pro-Nóbis (de tradução orai por nós), naquele funesto dia, antes da supressão-coletiva de plantas, incluindo-a, a cactácea trepadeira com lindas flores e folhas sucosas, se auto-traduzia na esperança de sensibiliz(ação) humana. Em cada golpe recebido da enxada amolada, os passarinhos disseram-me, que aquela familiar planta, urgia: orai por nós, ó Nossa Aparecida! Mãe-Padroeira dessa capital e país, salvai-me(nos)! (Toda)via, sem via de mudança na ação ilícita sem (autorização de órgão apropriado) – a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) –, suprimiram-na toda a Ora naquela hora, bem cedo da manhã! Interpretaram-na como apenas “matos”[xii] ou arbustos sem valor? 

 

A Ora-Pro-Nóbis detém mais proteína que a carne! O Sabiá, nosso pássaro nacional, disse ter lido que “a mesma possui propriedades nutricionais, principalmente pelo alto teor de proteínas de alta qualidade, sendo uma alternativa fácil e barata para enriquecer a dieta.”[xiii] Quanta ruína à planta que alimenta e mata fome por meio das folhas, a qual virou tão somente espécie morta a secar, bem esquecida, no gramado próximo da Escola Canarinho - Unidade Asa Norte. Até o canarinho voador lamentou a pseudo (limpeza)[xiv] na Área Verde. Ato realizado à revelia da Novacap. Assim, virou entulho a pura proteína da nutricional Ora. Disse-me o Bem-Te-Vi, ser vivo do bem, ter escutado o podcast sobre Ora-Pro-Nóbis por meio da Rádio Brasil de Fato: “Falando das propriedades nutricionais dela..., tem bastante proteína, lipídio, cálcio, fósforo, ferro, vitamina C, fibra.”[xv] O pássaro ao vê-la arrancada do canteiro, a Ora-Pro-Nóbis, somente conseguiu expressar: bem Mal-Te-Vi.

 

A Chaya (de significado ‘vida, viver, vida longeva’), segundo leu o João-de-Barro, no Folheto Chaya da Secretaria de Saúde do DF, a(o) “hortaliça... arbusto grande...espinafre-arbóreo... boa fonte de proteína, ferro, cálcio e vitaminas A e C”[xvi], também lutou para não ser morta junto à irmã-vegetal, a Ora-Pro-Nóbis, pois ambas são comumente parentas, como cientificamente nominadas – Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC’s). Fizeram-na, também, uma planta de valor nutricional expirada. A Chaya, popularmente, couve nos canteiros do Cerrado, foi eliminada com a sua “vida longeva”, deram-lhe, gratuitamente, a triste e trágica vida curta.

 

As Curicacas, como bem atentaram os três pássaros, são outras destacadas aves nesta área limítrofe EQN 208/209, inclusive como referência na imagem da placa oficial de identificação da SQN 209, ainda assim, perderam dois canteiros nutricionais, o da Ora e o da Chaya, fundamentais nos seus alimentos diários, durante suas caminhadas com os bicos compridos como aspiradores alimentares no solo. Naquele mesmo dia sinistro, conforme expressam o João, o Bem-Te-Vi e o Laranjeira, as parceiras Curicacas desorientaram-se até nos seus voos (diante os maus-tratos presenciados), pois só se alimentaram, igualmente a eles, os passarinhos, de muita tristeza. Foi ignorado por meio do ato brutal de supressões das plantas que os seres da flora e fauna são seres sencientes. Não somente os humanos sentem, reafirmam os pássaros! Até os “gatos comunitários”[xvii] e cães passantes ou passeantes desta EQN, perceberam tamanha rudeza naquela flora, o que significa maus-tratos aos seres vivos vegetais e animais presentes.

 

Os passarinhos disseram-me que o pé de (Aba)cateiro, frutífera abatida, antes de morrer, julgou desnecessário suprimi-la. Ainda ecoou, segundo escutou o Sabiá, eu, Árvore (Aba)cateiro, (aba)rcaria abacates e distintas vidas! Ó Dom Bosco, levaram-me a minha aba e de outras vidas.

 

As (Amor)eiras, igualmente frutíferas extintas, perderam o trieto do amor, fincado no nome da árvore, na Flor-da-(Amor)a e no fruto (Amor)a. Além de matarem juntos os seus corações-verdes presentes no formato de suas folhas. Sangraram-nas, as amoras, a Amoreira chorou rubro. Sem elas, os tenores João-de-Barro, Sabiá-Laranjeira, Bem Te Vi, singulares nesta EQN afetada, tornaram-se órfãos de amor, e sem a eira de algumas sombras com alimentos, como as suculentas e mimosas Amoras. Os seres voantes mudaram alguns dos seus cursos diários nas buscas de alimentos para si e seus filhotes nos ninhos. Isso se os ninhos não se foram?

 

Nossos passarinhos, sensivelmente abalados, também, falaram-me daquele ornamental Jasmim-Manga, onde – Jasmim – significa: “Dádiva de Deus”[xviii], mas nem esta dádiva foi poupada. Corpus Christi atual, na Semana Ambiental, sem aquelas árvores!  Portanto, ficou esta outra planta morta, ainda mais sentimental, pois o seu perfume de jasmim com manga, quando ela detinha vida, virou olor, quando morta sem perfumar mais, aquela comovida “Área Verde”, nos olhares de alguns poucos, incluindo-me, a área chorou. Nem mesmo o Alma-de-Gato por aqui mais miou com o excepcional canto felino, sendo-o, um pássaro com linda cauda em leque na paisagem. Cada abertura da comprida cauda é uma nuance em arte e plumagem. Em memória ao ocorrido o Alma-de-Gato manteve a cauda fechada como pesar pelas plantas eliminadas.

 

Convém referir outra exclusão incabível na Entrequadra. Segundo o Sabiá-Laranjeira houve eliminação da herbácea Açafrão-da-Terra, codinome “Ouro do Cerrado...”[xix]. Os três pássaros da prosa fundamentada concordam com os estudos científicos da mesma “Curcuma Longa.”[xx] Assim, por meio da orquestra coletiva, anunciaram em canto, trecho singular com refrão da planta Açafrão: “Possui diversas atividades farmacológicas, [...] tais como; atividades anti-inflamatória, antiviral, antibactericida, antioxidante, antifúngica, anticarcinogênica, entre outras ações [...].”[xxi] Quanto descaso ao “aproveitamento das plantas medicinais [...] um patrimônio de valor incalculável [...].”[xxii] Os passarinhos, ainda sensibilizados, não se esqueceram de corroborar o sentimento de perda da leguminosa arbustiva, o Feijão Guandu, extinguida sem dó. 

 

Espera-se nunca mais na EQN 208/209 – Área Pública Verde – ocorra o descaso impacto ambiental, datado em 30/3/2023. Tomara o pé de Mamona Vermelha, tão luzente, bem marcante, a qual ali restou, dentre outras amostras, por sorte da denúncia, protejam-nos de outro capinar sem sentido e, nem autorização prévia, como aconteceu no referido espaço público da capital do país "Brasília..., triplamente reconhecida enquanto patrimônio cultural: protegida pelo Governo do Distrito Federal, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela Unesco."[xxiii]

 

Exemplares da basilar vegetação sentiram, pois reafirmo que plantas sentem, e sofreram com a brutalidade da encomenda do arrancar por meio da enxada ou afim, ato indiferente às referidas árvores frutíferas, permitidas no projeto paisagístico desta cidade-parque” (IPHAN, 2015).[xxiv] Exemplos de dois exemplares suprimidos, a Amoreira e o pé de Abacateiro. Além do sacrifício de PANC’s, a Ora-Pro-Nóbis e a Chaya, extintas diante outros seres vegetais, animais e alguns humanos sensibilizados (perto ou à distância). Sem esquecer a Jasmim-Manga, Açafrão e Guandu, mencionados. Entrequadra esta, tornada cemitério a céu aberto, inaceitável ação, disseram-me os três pássaros “habitantes”[xxv] com quem conversei, e, me incluo com ele sentir. Convém uma reflexão da citação seguinte na Figura 1:

 

novacap

Figura 1: Trecho da Novacap no tema arborização.

 

Esta área pública, EQN 208/209, tamanha mácula ambiental, patrimonial, social, dentre outras provocadas no funesto dia, merece um MARCO DE ALERTA, pois além de Área Verde das multiespécies, agrega “Prática Integrativa em Saúde (PIS)”[xxvi], oferecida para a comunidade do entorno ou geral, a qual não foi considerada, pois as árvores suprimidas e outros seres não humanos levados aos maus-tratos, como os pássaros que evadiram do local, eram todos integrativos juntos a prática em saúde na área impactada. Cito-a, a PIS em questão, pois sou parte da comunidade, como habitante de Brasília (dezoito anos) na vizinha SQN 208.

 

Findo com a opinião na condição de brasileira, habitante e educadora, respaldando-me no direito de expressão de captar a visão dos pássaros a partir da po(ética), e, servir como transcritora das narrativas dos honrados João-de-Barro, Bem-Te-Vi, Sabiá-Laranjeira, os quais trouxeram-me os seus comentários fundamentados para reflexões na semana e mês do meio ambiente, pois os pássaros “têm habilidades surpreendentes: noção de tempo, reconhecimento de passado e futuro, [...], senso de direção, memória de longa duração e capacidade de aprender novos comportamentos por observação social.”[xxvii] Portanto, é um direito constitucional expressar, disseram-me os nossos conviventes pássaros, pois para eles o meio ambiente é planta/bicho ou bicho/planta. E, sem esquecer, também, gente! Vide “Art. 225. Capítulo VI Do Meio Ambiente”[xxviii] na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

 

Luto, em memória, ao amor findado das Amoreiras; a aba abolida do Abacateiro; ao refrão cortado do Açafrão e Feijão; ao aroma perdido do Jasmim-Manga; ao Orai por Nós negado a Ora-Pro-Nóbis e a vida abreviada da longeva Chaya – pois, eu, luto, por meio da poesia “Árvore” de Barros. Cantam os Paralamas: “O Poeta é a pimenta do planeta (Malagueta).”[xxix]

 

Obrigada Manoel de Barros por nos ajudar, os meus amigos ilustres pássaros, os quais pousaram quase em mim, mas acertaram o ponto, o seu poema “Árvore” com o título que lhes chamou a atenção. Assim, eles e, eu, findamos, com tua outra passagem para reflexão no mês junho da semana ambiental do recente Corpus Christi: “Queria que a minha voz tivesse um formato de canto”[xxx]. Sublime poeta, conseguimos, pois tivemos por meio do seu poema referido, a visita daqueles de quem escutamos o(s) “canto(s)” genuinamente gratuitos, sublimes como és, soltos para nós ao vento nesta Entrequadra, os nossos tenores – Joãozinho, Sabiázinho e o Bem-Te-Vizinho, pássaros que amenizam aquelas dores em nós das árvores suprimidas.

 

PoetIsis na vida! (Poe)sia põe reflexão, anotação... É o meu encantamento! Primo no poetizar o compromisso contra os maus-tratos aos seres animais, vegetais e humanos em situações de vulnerabilidade. Cativada por plantas, ênfase em medicinais, desde a experiência profissional no âmbito da Educação em Saúde Pública, com oportunidade de aprendizado – “Farmácias Vivas”[xxxi] – com o Prof. Dr. Francisco José de Abreu Matos[xxxii] (em memória). Sublime docente, quase um poeta junto aos fitoterápicos da Universidade Federal do Ceará (UFC).

 

Desde 1999, mesmo nas Ciências Humanas e Sociais, não posso abolir vivências anteriores na Saúde Pública, nem toda prática com projetos socioambientais e culturais no Ministério do Meio Ambiente (MMA) por cinco anos, pois ambiente e saúde cursam juntos. Os dois últimos parágrafos acima não desejo ser ostentadora de formação, mas esclarecedora do livre-arbítrio em tecer o escrito sem que transpareça uma abordagem do senso comum. Até pelo fato daqueles apontamentos, transcritos dos relatos dos seres da fauna que pousaram no poema “Árvore”, demonstrar a quebra do paradigma que os pássaros não sentem, pois:

 

Não muito tempo atrás, as aves eram vistas como animais de inteligência pouco refinada. Delas, invejava-se apenas o voo e a leveza. Essa, no entanto, não parece ser a realidade. Nas últimas duas décadas, os trabalhos de campo e em laboratórios pelo mundo têm revelado exemplos de espécies de pássaros com capacidade cognitiva comparável a dos primatas. O livro “A inteligência das aves”, de Jennifer Ackerman, vem mostrar essas descobertas, abrindo o leque do comportamento animal e dos estudos científicos que demonstram a genialidade das aves.[xxxiii] 

 

Quiçá ouçamos mais os três pássaros, dentre tantos outros nas nossas Entrequadras da “humanidade” em Brasília, pois os passarinhos exercem territorialidades excepcionais diante de nós. O bico traz a oferta da arte no canto, voo, prática alimentar, defesa contra predador, o admirável e natural modo de vida. Os pássaros são canetas coletivas de penas, as quais escrevem nos livros – árvores – nas suas raízes, troncos, galhos, folhas, frutos e canteiros, ou seja, tingem os apontamentos para os demais seres não humanos e humanos. É uma questão de sensibilidade... lê-los.

No ensejo para que toda semana seja mais ambiental!

 

Isis Maria Cunha Lustosa

Pesquisadora do Laboter/IESA/UFG. Membro do “Proyecto UBACYT”, Facultad de Filosofía y Letras (FFyL) da Universidad de Buenos Aires (UBA)

E-mail: isismclustosa12@gmail.com

 

[i] Brasília, Patrimônio Cultural da Humanidade. Disponível em: http://www4.planalto.gov.br/restauracao/brasilia-patrimonio-cultural-da-humanidade. Acesso em: 20 abril 2023.

[ii] Idem

[iii] BRASIL. LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9605.htm. Acesso em: 25 abril 2023.

[iv]Idem.

[v] Brasília (DF). Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/31. Acesso em: 20 abril 2023.

[vi] INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Brasil). Superquadra de Brasília: preservando um lugar de viver. Organização e coordenação Carlos Madson Reis, Sandra Bernardes Ribeiro e Francisco Ricardo Costa Pinto; texto, Claudia Marina Vasques et al. Brasília-DF, 2015

[vii] ENDEREÇOS DE BRASÍLIA: ENTENDA AGORA COMO FUNCIONAM! Disponível em: https://blog.quadraimob.com.br/enderecos-de-brasilia/. Acesso em: 20 abril 2023.

[viii] "ÁRVORE" DE MANOEL DE BARROS..... Disponível em: https://www.recantodasletras.com.br/homenagens/1868057. Acesso em: 25 abril 2023.

[ix] LEITE, Carlos William. Os dez melhores poemas de Manoel de Barros. Disponível em: www.revistabula.com.br. Acesso em: 20 abril 2023.

[x] LUSTOSA, Isis Maria Cunha.  As “casas” do joão-de-barro, o cotidiano urbano e as “firulas” copa da FIFA 2014, cidade-sede e cidade parque. Revista Territorial - Goiás, v.2, n.2, p.08-27, jul./dez. 2013.

[xi] SILVESTRE, Gilberto Fachetti; LORENZONI, Isabela Lyrio; HIBNER, Davi Amaral. A tutela jurídica material e processual da senciência animal no ordenamento jurídico brasileiro: Análise da legislação e de decisões judiciais.  Revista Brasileira de Direito Animal, Salvador, v. 13, n. 1, pp. 55-95, jan-abr 2018.

[xii] PAGOTTO, Claudia Kraus; TESSMANN, Juliane Regina. KUHN, Graciele de Oliveira. Ora-pro-nóbis: Propriedades e Aplicações. Disponível em: https://repositorio.ifsc.edu.br/handle/123456789/2286. Acesso em: 25 abril 2023.

[xiii] Idem.

[xiv] Termo utilizado pelo contratante/simpatizantes na contratação do serviço (capinar) sem autorização da Novacap, os quais  em parte colaboraram com recurso para a “Vakinha com K” a servir como pagamento de um jardineiro.

[xv] “CARNE VEGETAL”. Ora-pro-nóbis: fonte de proteínas e rica em minérios, planta é opção saudável e barata à carne. Rádio Brasil de Fato. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2023/02/21/ora-pro-nobis-fonte-de-proteínas-e-rica-em-minerios-planta-e-opcao-saudavel-e-barata-a-carne. Acesso em: 15 abril 2023.

[xvi] FOLHETO CHAYA. FARMÁCIA VIVA DO CERPIS/ julho 2019. Roda de conversa sobre plantas medicinais. Disponível em: www.saude.df.gov.br. Acesso em: 25 abril 2023.

[xvii] LEI Nº 6.612, DE 02 DE JUNHO DE 2020 (Autoria do Projeto: Deputado Daniel Donizet). Dispõe sobre animais comunitários no Distrito Federal e dá outras providências. Disponível em: https://www.sinj.df.gov.br/sinj/Norma/74ce2a32c71c4c5597c9363498be1282/Lei_6612_02_06_2020.html. Acesso em: 20 abril 2023.

[xviii] Jasmim – lendas e significados espirituais desta flor. Disponível em: www.greenme.com.br. Acesso em: 25 abril 2023.

[xix] A LAVOURA 725. O “Ouro do Cerrado Goiano”. Disponível em: https://alavoura.com.br/biblioteca/a-lavoura-725/o-ouro-do-cerrado-goiano/. Acesso em: 15 abril 2023.

[xx] MARCHI, Juliana Pelissari et al. CURCUMA LONGA L., O AÇAFRÃO DA TERRA, E SEUS BENEFÍCIOS MEDICINAIS. Arq. Ciênc. Saúde UNIPAR, Umuarama, v. 20, n. 3, p. 189-194, set./dez. 2016.

[xxi] Idem.

[xxii] FARMÁCIA VIVA. Disponível em: https://www.saude.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/9/2020/03/Farmacia-Viva.pdf. Acesso em: 15 abril 2023.

[xxiii] RODRIGUES, Gizella. Dois eixos e uma cidade única. Agência Brasília. Disponível em: https://agenciabrasilia.df.gov.br/2019/05/16/o-cruzamento-de-dois-eixos-e-uma-cidade-unica/. Acesso em: 25 abril 2023.

[xxiv] INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (Brasil). Superquadra de Brasília: preservando um lugar de viver. Organização e coordenação Carlos Madson Reis, Sandra Bernardes Ribeiro e Francisco Ricardo Costa Pinto; texto, Claudia Marina Vasques et al. Brasília-DF, 2015

[xxv]  PLURAL CURITIBA. Redação Plural.jor.br. “A inteligência das aves” entende que pássaros têm habilidades incríveis. Disponível em: https://www.plural.jor.br/noticias/cultura/livros/a-inteligencia-das-aves-entende-que-passaros-tem-habilidades-incriveis/. Acesso em: 25 abril 2023.

[xxvi] Práticas Integrativas em Saúde (PIS). Disponível em: https://www.saude.df.gov.br/documents/37101/72090/Folder+%E2%80%93+GERPIS.pdf/b7a42625-55af-0e06-2afd-830c804fcdd3?t=1648439101820. Acesso em: 20 abril 2023.

[xxvii] PLURAL CURITIBA. Redação Plural.jor.br. “A inteligência das aves” entende que pássaros têm habilidades incríveis. Disponível em: https://www.plural.jor.br/noticias/cultura/livros/a-inteligencia-das-aves-entende-que-passaros-tem-habilidades-incriveis/. Acesso em: 25 abril 2023.

[xxviii] CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 25 abril 2023.

[xxix] Os paralamas do sucesso. Assaltaram a gramática. Disponível em: www.cmtv.com.br. Acesso em: 25 abril 2023.

[xxx] LEITE, Carlos William. Os dez melhores poemas de Manoel de Barros. Disponível em: www.revistabula.com.br. Acesso em: 20 abril 2023.

[xxxi] RODRIGUES, Paulo Marcelo Martins. As farmácias vivas no ciclo da assistência farmacêutica: histórico e evolução.  Escola de Saúde Pública do Ceará. Gerência de Educação Permanente em Saúde – GEDUC. Fortaleza: Escola de Saúde Pública do Ceará, 2022.

[xxxii] “A criação das Farmácias Vivas pelo Professor Francisco José de Abreu Matos foi inspirada nos princípios defendidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).” Disponível em: https://www.saude.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/9/2020/03/Farmacia-Viva.pdf. Acesso em: 15 abril 2023.

[xxxiii] PLURAL CURITIBA. Redação Plural.jor.br. “A inteligência das aves” entende que pássaros têm habilidades incríveis. Disponível em: https://www.plural.jor.br/noticias/cultura/livros/a-inteligencia-das-aves-entende-que-passaros-tem-habilidades-incriveis/. Acesso em: 25 de abril 2023.

 

Ficha bibliográfica:

LUSTOSA, Isis Maria Cunha. Semana Mundial do Meio Ambiente 2023: reflexões de pássaros e anotações sobre plantas suprimidas e maus-tratos na EQN 208/209 de Brasília-DF. Caderno Territorial, vol. 13, n.15, 23 de junho de 2023. [ISSN 2238-5525].

Categorias: territorial